Fluidos, 2009
Lucas Fontana
Pinturas em Tela
15x15cm e 32x32cm
Lucas Fontana
Pinturas em Tela
15x15cm e 32x32cm
Fluido:
(latim fluidus, -a, -um)
s. m.
1. Qualquer substância que tem a capacidade de fluir como os líquidos ou os gases.
2. Líquido.
adj.
3. Que flui ou corre como um líquido.
4. Corrente, fácil, fluente.
5. Fig. Brando, frouxo, flácido.
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
(http://www.priberam.pt/)
Fluidos são substâncias que se caracterizam pela capacidade de deformação quando submetidas a uma tensão de cisalhamento, ou seja, uma tensão tangencial, também chamada de tensão de corte, que, por sua vez, se caracteriza pela ação de forças aplicadas em sentidos opostos, porém em direções semelhantes no material considerado não importando o quão pequena possa ser essa força bem como a tensão gerada. Sendo assim, consideramos como fluido uma substância capaz de se deformar continuamente quando submetida a uma tensão. Pelo fato dos fluidos compartilharem a propriedade de não serem resistentes à deformação, substancialmente eles apresentam a capacidade de fluir, agregada a esta característica especificamente dos líquidos incluímos a propriedade Superficie Livre caracterizada pela presença de tensão interna, atração e repulsão entre as moléculas do fluido e relação entre as tensões internas do líquido com o fluido ou sólido que o restringe. No caso dos meus estudos, este sólido pode ser considerado a superfície da tela à qual sobreponho líquidos compostos por diversos materias.
Os fluidos se distinguem dos sólidos pela comparação da viscosidade de sua matéria, assim podemos classificar um líquido como sendo mais próximo do estado sólido ou com maior propenção a fluidez comparando-o a outra substância. Elucido utilizando como exemplo alguns dos materiais que utilizo para a produção de minhas telas: o hidroasfalto é mais viscoso que o zarcão, ou seja, ele tem menor disposição a fluir em comparação ao zarcão, assim como se comparado ao naquim, a base acrílica ou mesmo ao adesivo pva. Veja os exemplos abaixo:
Neste projeto de pintura o cerne de minha pesquisa é observar e registrar de forma peculiar e pictórica as relações e reações entre diversos líquidos procurando obter certo controle sobre o devir de suas substâncias. Para isso utilizo de ferramentas não convencionais, tal como, seringas, conta-gotas, canudos e pequenos recipientes, procurando assim alcançar uma composição equilibrada dos múltiplos elementos aplicados na superfície. Dentre estes materias, utilizo adesivo PVA, base acrílica, grafite em pó, hidroasfalto, nanquim, pigmentos Pintkor, pigmentos Xadrez Lanxess e zarcão.
O resultado da ação dos sobejos de materiais que sobressaem dos meus gestos pictóricos não é de forma alguma ocasional, pois na medida em que me proponho a buscar os resultados das ações entre os fluidos, adquiro um domínio intrínseco nessas tentativas, um controle inerente ao fazer artístico. Dessa maneira, faço uma analogia à produção de Jackson Pollock, mas não apenas pelo fato da utilização de ferramentas não convencionais – estacas, canos, cabos de pau e facas eram utilizados por Jackson – mas também por valorizar o inusitado ignorarando o acidente e apropiando ao trabalho as reações dos gotejamentos e respingos de diferentes fluidos, assim como a evidente ausência de um inicio ou fim da obra. Em O Legado de Jackson Pollock Alan Kaprow destaca:
Pollock podia verdadeiramente dizer que estava “dentro” de sua obra. Aqui, o automatismo do ato torna claro não só que nesse caso não se trata do velho ofício da pintura, mas também que esse ato talvez chegue à fronteira do ritual, que por acaso usa a tinta como um de seus materiais. (KAPROW, 1958, pag. 40).
Dessa forma, estou certo de que este pensamento pode ser aplicado em sua totalidade ao meu trabalho.
Outro aspecto que pode ser ponderado – além da questão das ferramentas e da própria superfície, que embora não seja de grande escala mantém a mesma disposição para o trabalho, de forma plana e horizontal – diz respeito a questão gestual, intrinseca na produção de Pollock e deveras importante para meu trabalho, pois os gestos faciais, sopros, geram a tensão já mensionada, que por sua vez produz a força necessária para que os elementos fluam sobre a superfície que os limita, no caso a tela. A gestualidade é sem dúvida a nascente da genialidade de Pollock como atesta Kaprow:
Usei a expressão “quase absoluto” quando falei do gesto habitual como algo distinto do processo de julgar cada movimento sobre a tela. Pollock iria julgar seus “atos” de modo muito astuto e cuidadoso... antes de se encaminhar para outro ato. Ele sabia a diferença entre o bom e o mau gesto. Essa era a sua consciência artística em ação (KAPROW, 1958, pags. 40 e 41).
Em relação à forma, diferentemente da obra de Pollock, na qual existe uma evidente ausência de um início e fim, meus trabalhos apresentam sempre um centro, o ponto alvo dos gestos, lugar de origem da força e tensão no fluido. Sobre a forma nos trabalhos do artista expressionista abstrato, Alan Kaprow declara que:
Para sequi-la, é necessário se livrar da idéia usual de “Forma”, com começo, meio e fim, ou qualquer variante deste princípio – tal como a fragmentação. Não penetramos numa pintura de Pollock por qualquer lugar (ou por cem lugares). Parte alguma é toda parte, e nós imergimos e emergimos quando e onde podemos... sua arte dá a impressão de desdobrar-se eternamente – uma intuição verdadeira, que sugere o quanto Pollock ignorou o confinamento do campo retangular em favor de um continuum, seguindo em todas as direções simultaneamente, para além das dimensões literais de qualquer trabalho (KAPROW, 1958, pag. 41).
Contudo, nas minhas telas a partir do momento inicial da fluidez os elementos partem do núcleo da pintura e as substâncias se espalham pela a superfície da tela sucedendo através do movimento característico de cada elemento muitas vezes atingindo e ultrapassando os limites da tela (atribuo esse movimento ao devir exclusivo de cada material). Quando este “corte” ocorre, o espectador, recusando-se a aceitar essa limitação, é convidado a imaginar a sequência dessa fluidez, sendo assim, considero a borda da superficíe a qual os líquidos fluem como sendo uma fronteira entre o real e o imaginário, algo que igualmente avalio como semelhante ao trabalho de Pollock, pois assim define Kaprow:
Os quatro lados da pintura são, portanto, uma interrupção abrupta da atividade, que nossa imaginação faz seguir indefinidamente, como se se recusasse a aceitar a artificialidade de um “final”. Em trabalhos mais antigos, a borda era um corte muito mais preciso: aqui acabava o mundo do artista; para além começava o mundo do espectador e a “realidade” (KAPROW, 1958, pags. 41 e 42).
Usei a expressão “quase absoluto” quando falei do gesto habitual como algo distinto do processo de julgar cada movimento sobre a tela. Pollock iria julgar seus “atos” de modo muito astuto e cuidadoso... antes de se encaminhar para outro ato. Ele sabia a diferença entre o bom e o mau gesto. Essa era a sua consciência artística em ação (KAPROW, 1958, pags. 40 e 41).
Em relação à forma, diferentemente da obra de Pollock, na qual existe uma evidente ausência de um início e fim, meus trabalhos apresentam sempre um centro, o ponto alvo dos gestos, lugar de origem da força e tensão no fluido. Sobre a forma nos trabalhos do artista expressionista abstrato, Alan Kaprow declara que:
Para sequi-la, é necessário se livrar da idéia usual de “Forma”, com começo, meio e fim, ou qualquer variante deste princípio – tal como a fragmentação. Não penetramos numa pintura de Pollock por qualquer lugar (ou por cem lugares). Parte alguma é toda parte, e nós imergimos e emergimos quando e onde podemos... sua arte dá a impressão de desdobrar-se eternamente – uma intuição verdadeira, que sugere o quanto Pollock ignorou o confinamento do campo retangular em favor de um continuum, seguindo em todas as direções simultaneamente, para além das dimensões literais de qualquer trabalho (KAPROW, 1958, pag. 41).
Contudo, nas minhas telas a partir do momento inicial da fluidez os elementos partem do núcleo da pintura e as substâncias se espalham pela a superfície da tela sucedendo através do movimento característico de cada elemento muitas vezes atingindo e ultrapassando os limites da tela (atribuo esse movimento ao devir exclusivo de cada material). Quando este “corte” ocorre, o espectador, recusando-se a aceitar essa limitação, é convidado a imaginar a sequência dessa fluidez, sendo assim, considero a borda da superficíe a qual os líquidos fluem como sendo uma fronteira entre o real e o imaginário, algo que igualmente avalio como semelhante ao trabalho de Pollock, pois assim define Kaprow:
Os quatro lados da pintura são, portanto, uma interrupção abrupta da atividade, que nossa imaginação faz seguir indefinidamente, como se se recusasse a aceitar a artificialidade de um “final”. Em trabalhos mais antigos, a borda era um corte muito mais preciso: aqui acabava o mundo do artista; para além começava o mundo do espectador e a “realidade” (KAPROW, 1958, pags. 41 e 42).
Estas analogias de minha produção com a deste importante artista expressionista abstrato são feitas, pois acredito plausíveis e bastante instigantes para reflexão de ambas as obras. De maneira alguma tenho a pretensão de alguma forma superar ou suceder artista algum, não possuo tal vaidade para tamanha presunção. Todavia, quando relaciono Fluidos à pintura de Pollock faço não somente por admiração, pois de certa forma acredito buscar também inspiração, não só para produção artística, mas também textual, absorvendo um sem-número de escritos que aborda esta obra um tanto complexa. Sendo assim, escrevo aqui apenas ressalvas a respeito de minha pesquisa sob a ótica de quem observa com cuidado o trabalho de um artista revolucionário como Jackson Pollock, a seu respeito reforça Helena Vasconcelos:
Seu estilo se transformou radicalmente revolucionando o conceito da composição tradicional, assumiu um estilo de pintura no qual, propositadamente, evitava a identificação de um centro ou a correlação entre partes. O facto de trabalhar as telas no chão, de usar paus, facas e objectos de pedreiro para além de pincéis - que nunca tocavam a superfície da tela - de utilizar vidro moído, areia - como os índios americanos - e outros materiais não convencionais, contribuiu para abrir caminho ao Expressionismo Abstracto, uma corrente que englobou artistas como De Kooning, Lee Krasner, Mark Rothko, Philippe Guston, Franz Kline, Barnett Newman, Clifford Still e Helen Frankenthaler (VACONCELOS).
Referências Bibliográficas:
Seu estilo se transformou radicalmente revolucionando o conceito da composição tradicional, assumiu um estilo de pintura no qual, propositadamente, evitava a identificação de um centro ou a correlação entre partes. O facto de trabalhar as telas no chão, de usar paus, facas e objectos de pedreiro para além de pincéis - que nunca tocavam a superfície da tela - de utilizar vidro moído, areia - como os índios americanos - e outros materiais não convencionais, contribuiu para abrir caminho ao Expressionismo Abstracto, uma corrente que englobou artistas como De Kooning, Lee Krasner, Mark Rothko, Philippe Guston, Franz Kline, Barnett Newman, Clifford Still e Helen Frankenthaler (VACONCELOS).
Referências Bibliográficas:
BRUNETTI, Franco. Mecânica dos Fluidos. São Paulo: Prentice Hall, 2005.
CARVALHO, Leidiane. Relações espaciais em Pollock e Serra. Rio de Janeiro: Instituto de Artes UERJ, 2008.
KAPROW, Alan. O Legado de Jackson Pollock. In: FERREIRA, Glória; COTRIM, Cecília. (Org.). Escritos de Artistas Anos 1960/1970. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. (Artigo publicado originalmente em Art News, 1958 e incluído em O Percevejo 7. Rio de Janeiro, UniRio, 1999, com tradução de Cecilia Cotrim.
VACONCELOS, Helena. Jackson Pollock, 50 anos depois. Portugal: Storm, 2006.
Sites consultados:
Devir. Disponível em: http://www.filoinfo.bem-vindo.net/. Acesso em: 16/12/2009.
Escoamentos Limitados por Paredes & as Multiplas Escalas. Disponível em: http://www.fem.unicamp.br/. Acesso em: 16/12/2009.
FISPQ*, Grafite em Pó. Disponível em: http://www.labsynth.com.br/fispq.htm. Acesso em: 15/12/2009.
FISPQ*, Hidroasfalto. Disponível em: http://www.lwart.com.br/. Acesso em: 15/12/2009.
FISPQ*, Zarcão Anticorrosivo. Disponível em: http://www.anjoquimica.com.br/. Acesso em: 15/12/2009.
Fluido. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/fluido. Acesso em: 15/12/2009.
Heráclito (540 -470 a.C.). Disponível em: http://www.filosofia.com.br/. Acesso em: 16/12/2009.
Mecânica dos Fluidos. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/mec%C3%a2nica_dos_fluidos. Acesso em: 15/12/2009.
Viscosidade e Reologia: Noções Básicas. Disponível em: http://www.braseq.com.br/. Acesso em: 16/12/2009.
*FISPQ – Ficha de Informação de Segurança de Produto Químico.