quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Projeto Fluidos, 2009.

Fluidos, 2009
Lucas Fontana
Pinturas em Tela
15x15cm e 32x32cm

Fluido:
(latim fluidus, -a, -um)
s. m.
1. Qualquer substância que tem a capacidade de fluir como os líquidos ou os gases.
2. Líquido.
adj.
3. Que flui ou corre como um líquido.
4. Corrente, fácil, fluente.
5. Fig. Brando, frouxo, flácido.
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
(http://www.priberam.pt/)


Fluidos são substâncias que se caracterizam pela capacidade de deformação quando submetidas a uma tensão de cisalhamento, ou seja, uma tensão tangencial, também chamada de tensão de corte, que, por sua vez, se caracteriza pela ação de forças aplicadas em sentidos opostos, porém em direções semelhantes no material considerado não importando o quão pequena possa ser essa força bem como a tensão gerada. Sendo assim, consideramos como fluido uma substância capaz de se deformar continuamente quando submetida a uma tensão. Pelo fato dos fluidos compartilharem a propriedade de não serem resistentes à deformação, substancialmente eles apresentam a capacidade de fluir, agregada a esta característica especificamente dos líquidos incluímos a propriedade Superficie Livre caracterizada pela presença de tensão interna, atração e repulsão entre as moléculas do fluido e relação entre as tensões internas do líquido com o fluido ou sólido que o restringe. No caso dos meus estudos, este sólido pode ser considerado a superfície da tela à qual sobreponho líquidos compostos por diversos materias.
Os fluidos se distinguem dos sólidos pela comparação da viscosidade de sua matéria, assim podemos classificar um líquido como sendo mais próximo do estado sólido ou com maior propenção a fluidez comparando-o a outra substância. Elucido utilizando como exemplo alguns dos materiais que utilizo para a produção de minhas telas: o hidroasfalto é mais viscoso que o zarcão, ou seja, ele tem menor disposição a fluir em comparação ao zarcão, assim como se comparado ao naquim, a base acrílica ou mesmo ao adesivo pva. Veja os exemplos abaixo:

Neste projeto de pintura o cerne de minha pesquisa é observar e registrar de forma peculiar e pictórica as relações e reações entre diversos líquidos procurando obter certo controle sobre o devir de suas substâncias. Para isso utilizo de ferramentas não convencionais, tal como, seringas, conta-gotas, canudos e pequenos recipientes, procurando assim alcançar uma composição equilibrada dos múltiplos elementos aplicados na superfície. Dentre estes materias, utilizo adesivo PVA, base acrílica, grafite em pó, hidroasfalto, nanquim, pigmentos Pintkor, pigmentos Xadrez Lanxess e zarcão.

O resultado da ação dos sobejos de materiais que sobressaem dos meus gestos pictóricos não é de forma alguma ocasional, pois na medida em que me proponho a buscar os resultados das ações entre os fluidos, adquiro um domínio intrínseco nessas tentativas, um controle inerente ao fazer artístico. Dessa maneira, faço uma analogia à produção de Jackson Pollock, mas não apenas pelo fato da utilização de ferramentas não convencionais – estacas, canos, cabos de pau e facas eram utilizados por Jackson – mas também por valorizar o inusitado ignorarando o acidente e apropiando ao trabalho as reações dos gotejamentos e respingos de diferentes fluidos, assim como a evidente ausência de um inicio ou fim da obra. Em O Legado de Jackson Pollock Alan Kaprow destaca:

Pollock podia verdadeiramente dizer que estava “dentro” de sua obra. Aqui, o automatismo do ato torna claro não só que nesse caso não se trata do velho ofício da pintura, mas também que esse ato talvez chegue à fronteira do ritual, que por acaso usa a tinta como um de seus materiais. (KAPROW, 1958, pag. 40).

Dessa forma, estou certo de que este pensamento pode ser aplicado em sua totalidade ao meu trabalho.
Outro aspecto que pode ser ponderado – além da questão das ferramentas e da própria superfície, que embora não seja de grande escala mantém a mesma disposição para o trabalho, de forma plana e horizontal – diz respeito a questão gestual, intrinseca na produção de Pollock e deveras importante para meu trabalho, pois os gestos faciais, sopros, geram a tensão já mensionada, que por sua vez produz a força necessária para que os elementos fluam sobre a superfície que os limita, no caso a tela. A gestualidade é sem dúvida a nascente da genialidade de Pollock como atesta Kaprow:

Usei a expressão “quase absoluto” quando falei do gesto habitual como algo distinto do processo de julgar cada movimento sobre a tela. Pollock iria julgar seus “atos” de modo muito astuto e cuidadoso... antes de se encaminhar para outro ato. Ele sabia a diferença entre o bom e o mau gesto. Essa era a sua consciência artística em ação (KAPROW, 1958, pags. 40 e 41).

Em relação à forma, diferentemente da obra de Pollock, na qual existe uma evidente ausência de um início e fim, meus trabalhos apresentam sempre um centro, o ponto alvo dos gestos, lugar de origem da força e tensão no fluido. Sobre a forma nos trabalhos do artista expressionista abstrato, Alan Kaprow declara que:

Para sequi-la, é necessário se livrar da idéia usual de “Forma”, com começo, meio e fim, ou qualquer variante deste princípio – tal como a fragmentação. Não penetramos numa pintura de Pollock por qualquer lugar (ou por cem lugares). Parte alguma é toda parte, e nós imergimos e emergimos quando e onde podemos... sua arte dá a impressão de desdobrar-se eternamente – uma intuição verdadeira, que sugere o quanto Pollock ignorou o confinamento do campo retangular em favor de um continuum, seguindo em todas as direções simultaneamente, para além das dimensões literais de qualquer trabalho (KAPROW, 1958, pag. 41).

Contudo, nas minhas telas a partir do momento inicial da fluidez os elementos partem do núcleo da pintura e as substâncias se espalham pela a superfície da tela sucedendo através do movimento característico de cada elemento muitas vezes atingindo e ultrapassando os limites da tela (atribuo esse movimento ao devir exclusivo de cada material). Quando este “corte” ocorre, o espectador, recusando-se a aceitar essa limitação, é convidado a imaginar a sequência dessa fluidez, sendo assim, considero a borda da superficíe a qual os líquidos fluem como sendo uma fronteira entre o real e o imaginário, algo que igualmente avalio como semelhante ao trabalho de Pollock, pois assim define Kaprow:

Os quatro lados da pintura são, portanto, uma interrupção abrupta da atividade, que nossa imaginação faz seguir indefinidamente, como se se recusasse a aceitar a artificialidade de um “final”. Em trabalhos mais antigos, a borda era um corte muito mais preciso: aqui acabava o mundo do artista; para além começava o mundo do espectador e a “realidade” (KAPROW, 1958, pags. 41 e 42).
Estas analogias de minha produção com a deste importante artista expressionista abstrato são feitas, pois acredito plausíveis e bastante instigantes para reflexão de ambas as obras. De maneira alguma tenho a pretensão de alguma forma superar ou suceder artista algum, não possuo tal vaidade para tamanha presunção. Todavia, quando relaciono Fluidos à pintura de Pollock faço não somente por admiração, pois de certa forma acredito buscar também inspiração, não só para produção artística, mas também textual, absorvendo um sem-número de escritos que aborda esta obra um tanto complexa. Sendo assim, escrevo aqui apenas ressalvas a respeito de minha pesquisa sob a ótica de quem observa com cuidado o trabalho de um artista revolucionário como Jackson Pollock, a seu respeito reforça Helena Vasconcelos:

Seu estilo se transformou radicalmente revolucionando o conceito da composição tradicional, assumiu um estilo de pintura no qual, propositadamente, evitava a identificação de um centro ou a correlação entre partes. O facto de trabalhar as telas no chão, de usar paus, facas e objectos de pedreiro para além de pincéis - que nunca tocavam a superfície da tela - de utilizar vidro moído, areia - como os índios americanos - e outros materiais não convencionais, contribuiu para abrir caminho ao Expressionismo Abstracto, uma corrente que englobou artistas como De Kooning, Lee Krasner, Mark Rothko, Philippe Guston, Franz Kline, Barnett Newman, Clifford Still e Helen Frankenthaler (VACONCELOS).


Referências Bibliográficas:

BRUNETTI, Franco. Mecânica dos Fluidos. São Paulo: Prentice Hall, 2005.
CARVALHO, Leidiane. Relações espaciais em Pollock e Serra. Rio de Janeiro: Instituto de Artes UERJ, 2008.
KAPROW, Alan. O Legado de Jackson Pollock. In: FERREIRA, Glória; COTRIM, Cecília. (Org.). Escritos de Artistas Anos 1960/1970. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. (Artigo publicado originalmente em Art News, 1958 e incluído em O Percevejo 7. Rio de Janeiro, UniRio, 1999, com tradução de Cecilia Cotrim.
VACONCELOS, Helena. Jackson Pollock, 50 anos depois. Portugal: Storm, 2006.
Sites consultados:

Devir. Disponível em: http://www.filoinfo.bem-vindo.net/. Acesso em: 16/12/2009.
Escoamentos Limitados por Paredes & as Multiplas Escalas. Disponível em: http://www.fem.unicamp.br/. Acesso em: 16/12/2009.
FISPQ*, Grafite em Pó. Disponível em: http://www.labsynth.com.br/fispq.htm. Acesso em: 15/12/2009.
FISPQ*, Hidroasfalto. Disponível em: http://www.lwart.com.br/. Acesso em: 15/12/2009.
FISPQ*, Zarcão Anticorrosivo. Disponível em: http://www.anjoquimica.com.br/. Acesso em: 15/12/2009.
Fluido. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/fluido. Acesso em: 15/12/2009.
Heráclito (540 -470 a.C.). Disponível em: http://www.filosofia.com.br/. Acesso em: 16/12/2009.
Mecânica dos Fluidos. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/mec%C3%a2nica_dos_fluidos. Acesso em: 15/12/2009.
Viscosidade e Reologia: Noções Básicas. Disponível em: http://www.braseq.com.br/. Acesso em: 16/12/2009.


*FISPQ – Ficha de Informação de Segurança de Produto Químico.

Fluidos (Fluids), 2009. Adesivo PVA, base acrílica, grafite em pó, hidroasfalto, nanquim e pigmentos sobre tela 32x32cm - parte um.




Fluidos (Fluids), 2009. Adesivo PVA, base acrílica, grafite em pó, hidroasfalto, nanquim e pigmentos sobre tela 32x32cm - parte dois.



Fluidos (Fluids), 2009. Adesivo PVA, base acrílica, grafite em pó, nanquim e pigmentos sobre tela 32x32cm - parte três.




Fluidos (Fluids), 2009. Adesivo PVA, base acrílica, grafite em pó, hidroasfalto, nanquim, pigmentos e zarcão sobre tela 15x15cm - parte um.






Pinturas sobre tela, 15x15cm.

Fluidos (Fluids), 2009. Adesivo PVA, base acrílica, grafite em pó, hidroasfalto, nanquim, pigmentos e zarcão sobre tela 15x15cm - parte dois.



Pinturas sobre tela, 15x15cm.

Fluidos (Fluids), 2009. Adesivo PVA, base acrílica, grafite em pó, hidroasfalto, nanquim, pigmentos e zarcão sobre tela 15x15cm - parte três.





Pinturas sobre tela, 15x15cm.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Banner Lucas Fontana Artes, 2009 - Maya, Mental Ray, Zbrush, Fireworks e Photoshop.



Aproveitando o sábado e tentando não dormir após virar a noite fazendo trabalhos e mais trabalhos (final de semestre não é mole), fiz este Banner Lucas Fontana Artes; isso mesmo, em minha homenagem... rsrsrsrsrs.
Na verdade comecei a fazer este trabalho por acaso. Inicialmente eu só precisava de uma imagem 512x512 que contivesse o título do meu blog para encaminhar a um contato no Second Life, este por sua vez iria linkar a imagem ao meu blog lá (ou ali) no mundo virtual. Assim, reuni umas imagens de trabalhos recentes e, após 24h sem dormir, fui fazer a pequena imagem.
Sem mais delonga, o resultado é que de 512x512 ela acabou ficando 3563x753 e acabei usando Maya, Mental Ray, Zbrush, Fireworks e Photoshop.
Nossa, agora depois de mais de 30h sem dormir, estou aqui a postar tentando prolongar o sono até a noite, ainda faltam umas 5 horas...

Exposição Laboratório de Modelagem e Ambiência Tridimensional no Second Life






Este trabalho foi realizado para cadeira Laboratório de Arte e Telemática ministrada pela Prof. Dr. Maria Cristina Biazus.
A idéia foi propor aos colegas uma reflexão sobre a arte do campo real e do virtual, aproveitando que esta mesma exposição - Laboratório de Modelagem e Ambiência Tridimensional - está ocorrendo no hall do IA/UFRGS. Desta maneira proporciono a possibilidade das pessoas poderem visitar a exposição tanto no RL (Mundo Real) quanto no SL (Virtual - Second Life).
Se alguém quiser visitar a mostra no SL (Second Life), segue coordenadas:

! The Omni Market & Art Gallery: Giradikon (61, 43, 82)
SIM:
http://slurl.omni.fm/
Visitação até 07/01/2009 a qualquer hora (são as facilidades do mundo virtual)

Se alguém quiser visitar a mostra no RL (Mundo Real), segue coordenadas:
Instituto de Artes UFRGS:
Senhor dos Passos, 248 - Centro - Porto Alegre - RS - Brasil.
Visitação até 23/12 de segunda à sexta-feira das 9h às 21h.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Díptico Grito Enérgico (2009)

Foto: Guto Maahs
Este trabalho esteve exposto desta maneira na Alameda das Artes do Shopping Total - Porto Alegre/RS - em decorrência da Biebal B 2009.
Resolvi postar está nova imagem da obra, pois foi capturada com maestria pelo meu grande amigo, artista e fotográfo Guto Maahs. Esta fotografia mostra definitivamente a relação que busquei entre os dois trabalhos, a questão da transcendência tanto do real para o virtual quanto contrário. Acredito que ao expôr os trabalhos próximos eles acabam se complementando e o espectador é responsável por essa complementação ao fruir de suas diferenças e semelhanças.

Mais informações sobre a obra clique aqui.


segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Exposição Linhas de Trabalho - Bienal B




Fotos: Guto Maahs


O coletivo “Linhas de Trabalho”, nesta exposição que leva seu nome, mostra obras executadas através de técnicas distintas. Entretanto, apesar das poéticas diferenciadas, estas obras apresentam em comum a presença da linha, mas não em sua forma embrionária, como na linguagem do desenho que a faz surgir limpa e longilínea, mas sim como um vetor criativo. Aliada a imaginação, estas linhas tornam-se instrumentos de elaboração da realidade, propondo ao espectador novas possibilidades de percepção deste recurso elementar do desenho.
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Exposição Linhas de Trabalho Local:
Alameda das Artes - Shopping Total.
Av. Cristovão Colombo, 545. Bairro Floresta - Porto Alegre.
Abertura: 08 de Outubro, às 19h30.
Visite: até 31 de Outubro, das 10h às 22h, de segunda à sábado.
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Informações: lucas.artes@gmail.com

terça-feira, 1 de setembro de 2009

A Máquina Orgânica - The Organic Machine (under construction) - Acrílico sobre tela. 115cm x 85cm, 2009.







Partindo deste signo espiral, uma força invisível percorre a forma gerando sua vida. Desta maneira a máquina absorve a energia, agora vital, advinda primeiramente da forma helicoidal e assim gera outro elemento, as vísceras. Elas passam a representar a vitalidade da peça que por sua vez agora está visível. Por conseguinte, esta vitalidade produz a fonte de energia necessária para a espiral continuar em funcionamento.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Pequeno Lucas e a Estranha Forma Esférica - Photoshop CS e Fireworks, 2009.


Sempre achei esta foto muito legal, pareço estar muito feliz e acredito que realmente estava. Foi tirada há uns 20 anos e agora, revirando algumas coisas, a reencontrei e depois de tanto tempo percebi este meu ollhar compenetrado em algo que não saberia hoje descrever. Resolvi então representar esta presença que interagiu comigo há vários anos atrás... imaginação ou realidade?